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Vida longa ao Partido dos Trabalhadores

quinta-feira, setembro 27th, 2007

Por Bruno Vanhoni e João Paulo Mehl

É importante, sempre, reafirmarmos o que nos motiva a construir o PT. A miséria, a alienação, os preconceitos, o individualismo, a opressão, a exploração, a negação da dignidade para a maioria, as limitações da democracia burguesa e o canibalismo social que o sistema capitalista impõe para as pessoas são alguns dos absurdos que nos motivam a lutar por uma nova sociedade, tendo no PT nosso principal instrumento de luta.

Compreendemos o partido como um instrumento da luta pela construção do socialismo. Ainda acreditamos que o PT existe para fortalecer a esquerda, para organizar e avançar em defesa do povo explorado e oprimido. Queremos o PT como aglutinador dos movimentos, entidades, instituições e partidos de esquerda.

Passado o III congresso e tendo com ele a reafirmação do socialismo e a necessidade de repensarmos o partido, vemos este próximo PED como uma possibilidade de avançarmos ainda mais. Queremos construir o Partido com uma visão de longo prazo, dentro de um projeto estratégico de construção do socialismo, de alteração da cultura política e transformação da realidade do povo. É certo que só se constrói uma luta tão ampla e longa, exercitando a prática-política socialista no dia-a-dia. Neste próximo processo precisamos debater o que queremos para o presente e para o futuro do Partido dos Trabalhadores.
QUE PARTIDO DOS TRABALHADORES?
1.Democrático: para o partido ser radicalmente democrático ele precisa de espaços de debate e formulação acessíveis a todos e todas filiadas. Igualdade de condições para se expressar livremente no Partido sobre qualquer tema. Precisamos, também, de mecanismos de controle e tomada de decisões democráticos e coletivos.

2.Formação Política: ela se dá através do estudo teórico e da luta prática. Estudar os conceitos do socialismo, a história, a forma com que se estabeleceram e se fragmentaram as relações sociais, os acertos e erros dos processos revolucionários já ocorridos, os efeitos do capitalismo na sociedade, etc., é fundamental para a compreensão da luta e do papel de cada militante na sua construção. As passeatas, as ocupações, as greves, todas as formas de protesto coletivo fortalecem e ensinam muito cada militante. O partido precisa emular e garantir formação para as/os militantes.

3.Plural: não somos iguais e nem carregamos a verdade conosco. Se pretendemos construir uma sociedade igualitária e justa para os desiguais a diversidade de experiências, de compreensão e de opiniões, além de trazer riqueza à formulação e amplitude à ação, também se faz fundamental no combate ao sectarismo. As tendências internas do PT devem trabalhar em conjunto, reconhecer no companheiro e companheira independente ou de outra tendência um aliado/a na luta contra o capitalismo. Essas organizações servem para enriquecer a produção teórica, produzir síntese tática e estratégica do acúmulo produzido na base do Partido.

4.Construção Coletiva: toda luta que fazemos, a concepção de sociedade que temos, as mudanças que construímos e o socialismo só são possíveis se forem construídos com muitas pessoas e para muitas pessoas. Não há outra forma sólida de construção que não a coletiva. O processo de construir coletivamente cria as condições objetivas e subjetivas para que se faça a luta com legitimidade, democracia, comprometimento e unidade de ação.

5.Movimentos Sociais: ter relação com os movimentos sociais é importante, mas estar militando no seu dia-a-dia é imprescindível. Não militamos para apoiar as lutas dos movimentos sociais, militamos para construí-las. O PT nasce contra a prática do aparelhamento dos Movimentos Sociais. A relação entre o Partido e os movimentos deve ser dialética, de troca de experiências, de aprendizado, ensinamento e de construção conjunta. O fortalecimento dos Movimentos Sociais é condição “sine qua non” para efetivação de uma nova sociedade. Temos a responsabilidade de estreitar a relação entre o partido e os movimentos sociais.

6.Disputa de Hegemonia: compreendemos de que só disputando as pessoas, as mentes e corações é que conquistamos uma verdadeira hegemonia social, política e ideológica. Disputar hegemonia significa travar o embate social, político e ideológico em todos lugares possíveis. Acreditamos na importância da disputa institucional, mas ela deve ser considerada como mais uma frente de luta, nem mais, nem menos importante do que as outras frentes. Todas as nossas lutas devem estar a serviço da organização do povo e das lutas sociais.

Organização: Para avançar em qualquer situação e atingir os objetivos democraticamente instituídos, é necessário organização e ações estratégicas. Com desorganização, não é possível conhecer os/as militantes do partido, não sabemos onde estão e nem o que estão fazendo, muito menos conseguimos unir os esforços individuais para ações coletivas. Se uma de nossas grandes tarefas é contribuir e estimular a organização do povo, precisamos organizar nossa própria base de ação, que é o partido dos trabalhadores. A organização é o que nos permite avaliar a conjuntura de forma realista, enxergar as contradições da realidade de forma mais clara, conhecer as demandas e acúmulos de cada setor do partido e integrá-las em um conhecimento comum, que possa servir de base para ações coletivas e estratégicas. Em uma complexa realidade, sempre em constante movimento dialético, é necessário planejar ações organizadas para que os esforços pessoais de cada militante sejam integrados em uma organização comum dentro do partido. Assim, podemos ter um partido que seja democrático em sua essência, mas que seja efetivo em suas intervenções na realidade social.
7.Juventude: qualquer projeto político sólido, socialista, que seja de longo prazo deve ter na juventude uma prioridade. Temos consciência da amplitude, dos obstáculos e do caráter permanente de construção e aperfeiçoamento do socialismo. Avançar na luta de classes, acumular força, transformar a sociedade, alterar a cultura política, são tarefas para muitas gerações de militantes. Ter uma juventude organizada, de massas, que dispute a sociedade, mas principalmente a juventude brasileira para outra concepção de mundo é imprescindível para um partido que tem como objetivo estratégico construir uma nova sociedade.

8.Outros Pontos: acabar com a exploração das pessoas, animais e meio ambiente. A solidariedade com todo povo explorado e oprimido. A autonomia política frente a quaisquer governos. Ser a expressão da base organizada no partido.
O fortalecimento do partido deve ser reflexo de dois elementos: da ampliação da consciência coletiva na sociedade e do avanço da organização popular. Para isso é fundamental que estes elementos balizem toda nossa atuação partidária e individual na sociedade, a forma como nos relacionamos internamente nas instâncias partidárias, nos Encontros, Congressos e Processos Eleitorais internos traduzem a nossa capacidade de transformar em prática o que teorizamos, ou seja, essas relações devem ser a expressão da sociedade pela qual lutamos.
Esses pontos aqui listados não estão em ordem de importância, pois não acreditamos que eles possam ser dissociados, apenas o conjunto deles pode garantir uma prática-política que possa ser reconhecida como socialista.

Acreditamos que fazer esse debate nos ajuda a resgatar e fortalecer nos/nas militantes a concepção de partido como instrumento para transformar a sociedade, emancipar as pessoas e que insira o sentimento e a responsabilidade coletiva na cultura brasileira. Um partido que construa as lutas populares no seu dia-a-dia, que tenha na direção a expressão do acúmulo, teórico e de luta, produzido em sua base. Construímos um Partido para disputar hegemonia na sociedade, não só para disputar eleições, mas que constrói o socialismo cotidianamente. Militamos em um Partido socialista, por uma sociedade livre de preconceitos e exploração.
Apoiando e Disputando o Governo Lula

O segundo Governo do Presidente Lula é, naturalmente, um governo com muitas contradições por ter na sua base e na sua direção setores progressistas e conservadores.
Não é nosso papel discutir neste PED quão melhor foi este governo de todos os outros que nos antecederam. Não vamos listar os inúmeros avanços que esse governo obteve, pois isso é consensual entre nós e a SECOM da Presidência da República já faz.
É um governo em permanente disputa e esse não é o problema, mas o campo em que se dá essa disputa. Disputar o governo apenas no legislativo e no executivo tem limitado os avanços que temos tido.
O PT é o maior responsável pela gestão do governo federal. Certamente o PT é o partido que cativou mais a fundo a indignação, a rebeldia, a luta por dignidade e democracia, o sentimento de transformação e justiça social, enfim, a convicção socialista no povo brasileiro. A maior responsabilidade do partido é dar conseqüência a todo acúmulo gerado no PT e na sociedade desde a Carta de Princípios de 1979 até o III Congresso. As contradições do governo não podem ser as contradições do PT. O partido tem vida própria e deve ser independente do governo.
A próxima direção partidária tem o desafio de conduzir uma relação com o governo que seja para reafirmar, com intransigência, o programa eleito pelo povo. Que seja para defender e lutar pelo governo que elegemos, para organizar todas/os as/os petistas na luta, nos movimentos sociais e para construir o socialismo petista.
A derrota dos tucanos, especialmente no segundo-turno de 2006 mostrou que o projeto político das privatizações, do Estado mínimo foi negado pela sociedade. Este processo deixou claro que o Governo é permeável à radicalização, desde que o processo e a base social o conduzam a isso. Cabe a militancia petista ajudar a organizar melhor a sociedade e principalmente aos movimentos populares se organizarem melhor – qualitativa e quantitativamente – para empurrar o Governo para a esquerda.
Na carta de princípios de 1979 o PT já se definia: “Como organização política que visa elevar o grau de mobilização, organização e consciência de massas, que busca o fortalecimento e a independência política e ideológica dos setores populares”, devendo cumprir o papel de correia de transmissão dos interesses do povo. Não somos um partido feito para governar apenas, somos um partido feito para organizar as massas populares e suas lutas, tendo a política institucional e o governo como instrumentos para implementar nossas bandeiras políticas.
Reivindicamos que a próxima direção do PT seja dirigente para sintetizar as reivindicações e lutas do povo e das/os filiadas/os, que seja combativa para levantar as bandeiras e ir para as ruas, que seja autônoma para pressionar e conduzir a política do Governo Federal, que seja sonhadora, que reencante a militância e fortaleça a esperança dos milhares de brasileiros e brasileiras que tem no partido dos trabalhadores sua referência de luta!
Críticas foram expostas, desafios apresentados, mas agora cabe a militância do partido dos trabalhadores compreender a sua importância neste processo político para participar e dirigir o nosso partido no próximo período, sempre no rumo do socialismo.
Que este PED não tenha o Governo Federal como centro do seu debate, tampouco as eleições de 2008! Que neste PED a disputa não gire em torno da institucionalidade do PT! Que neste PED o centro dos debates e das disputas seja o Partido dos Trabalhadores!
Viva o socialismo
Viva o Partido dos Trabalhadores

Bruno Vanhoni faz parte do coletivo nacional de juventude do PT e é militante do MAIS – Movimento Ação e Identidade Socialista.
João Paulo Mehl faz parte do coletivo municipal de juventude do PT de Curitiba e é militante do MAIS – Movimento Ação e Identidade Socialista.